Penso assim e falo aqui
Sunday, May 7, 2017
Friday, May 6, 2016
"COM AS PESSOAS QUE NÓS INVENTAMOS, SÓ TEREMOS AMORES IMAGINÁRIOS” Zack Magiezi
Aquilo que era homem! Gentil, culto, romântico, gostava de boa música. Divertido, leal, bem sucedido, parceiro. Adivinhador de desejos. Sabia exatamente onde deveria colocar a mão. Sabia beijá-la. Trazia-lhe flores, o doce predileto. Escrevia bilhetinhos endeusando, em português impecável, a beleza que só ele via. Ainda, os deixava em baixo da xícara de café, recém passado para ela, pela manhã.
Todos nós carregamos ideais. Mas quando se trata de amor, essa capacidade se agiganta de tal forma que corremos sério risco de nos perdermos entre o que é ideal e o que é idealizado. A verdade é que se for uma idealização, hora ou outra, a relação vai trazer sofrimento. O ser encantado não resiste às decepções, fraqueja às diferenças, não suporta o contato e todos os atravessamentos da realidade. É o amor das ideias. Dada à inevitável contrariedade, todo o pozinho de pirlimpimpim se acaba. A carruagem assume sua abobrice, um lord sua forma de canalha e o sapato não entra mais no pé daquela garota, a qual você acreditou calçar um maldito scarpin de cristal, número 35.
Mas afinal de contas, aonde foi parar aquela pessoa, tão magnífica, por quem juraria passar o resto de sua vida? Ele sumiu, ela se foi, acabou. E você? Ah, você disse: — Pegue suas coisas e suma pra sempre dos meus pensamentos. Não é essa pessoa a quem enderecei minha paixão. Aliás, quem é você?
O que amamos no outro, muitas vezes, não é o que ele é, mas o que queremos que ele seja. E quando há decepção, a cortina se abre junto à sensação de que essa pessoa nunca existiu. Ela era uma construção do que desejamos encontrar em alguém. Era fruto do amor idealizado, impalpável, inventado. O amor que não se aproxima, não toca, não envolve, só existe no mundo das ideias. O amor que não suporta, não sobreleva, que não ousa se submeter ao outro. O amor que não aguenta desaforos, que não se sujeita ao imperfeito, é o amor da abstração. Um amor fadado ao fim triste, o amor que nem começa, amor que não se vive.
Enquanto isso, existe por aí uma história de amor ideal esperando ser vivida. Ideal não porque é perfeita e sublime, mas por compactuar com a previsibilidade dos erros. Ideal é quando a condição para o amor é o encontro, assim mesmo, um encontro entre dois. Sem a necessidade de forçar o outro caber nos nossos sonhos. Para ver o amor ideal é condição também se ver imperfeito, sob a certificação de que jamais sobreviveríamos numa relação onde também somos idealizados.
Ideal mesmo é ganhar cafuné meio desengonçado, e gostar. É escutá-la, mas não entender direito o que é que ela fala. É ver o bigode de leite que fica na boca do outro, e ainda assim, sei lá porque, continuar amando.
*Título tomado de empréstimo de Zack Magiezi.
Todos nós carregamos ideais. Mas quando se trata de amor, essa capacidade se agiganta de tal forma que corremos sério risco de nos perdermos entre o que é ideal e o que é idealizado. A verdade é que se for uma idealização, hora ou outra, a relação vai trazer sofrimento. O ser encantado não resiste às decepções, fraqueja às diferenças, não suporta o contato e todos os atravessamentos da realidade. É o amor das ideias. Dada à inevitável contrariedade, todo o pozinho de pirlimpimpim se acaba. A carruagem assume sua abobrice, um lord sua forma de canalha e o sapato não entra mais no pé daquela garota, a qual você acreditou calçar um maldito scarpin de cristal, número 35.
Mas afinal de contas, aonde foi parar aquela pessoa, tão magnífica, por quem juraria passar o resto de sua vida? Ele sumiu, ela se foi, acabou. E você? Ah, você disse: — Pegue suas coisas e suma pra sempre dos meus pensamentos. Não é essa pessoa a quem enderecei minha paixão. Aliás, quem é você?
O que amamos no outro, muitas vezes, não é o que ele é, mas o que queremos que ele seja. E quando há decepção, a cortina se abre junto à sensação de que essa pessoa nunca existiu. Ela era uma construção do que desejamos encontrar em alguém. Era fruto do amor idealizado, impalpável, inventado. O amor que não se aproxima, não toca, não envolve, só existe no mundo das ideias. O amor que não suporta, não sobreleva, que não ousa se submeter ao outro. O amor que não aguenta desaforos, que não se sujeita ao imperfeito, é o amor da abstração. Um amor fadado ao fim triste, o amor que nem começa, amor que não se vive.
Enquanto isso, existe por aí uma história de amor ideal esperando ser vivida. Ideal não porque é perfeita e sublime, mas por compactuar com a previsibilidade dos erros. Ideal é quando a condição para o amor é o encontro, assim mesmo, um encontro entre dois. Sem a necessidade de forçar o outro caber nos nossos sonhos. Para ver o amor ideal é condição também se ver imperfeito, sob a certificação de que jamais sobreviveríamos numa relação onde também somos idealizados.
Ideal mesmo é ganhar cafuné meio desengonçado, e gostar. É escutá-la, mas não entender direito o que é que ela fala. É ver o bigode de leite que fica na boca do outro, e ainda assim, sei lá porque, continuar amando.
*Título tomado de empréstimo de Zack Magiezi.
Thursday, April 14, 2016
A lista
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
Oswaldo Montenegro
Tuesday, April 12, 2016
Amor, de todas as formas
E de agora em diante, fica estabelecido que todos os corações vazios, mal amados, partidos, abandonados ou tão somente subutilizados serão pacífica e amorosamente invadidos e ocupados pelo amor em todas as suas formas.
Sem paus e pedras e enxadas, mas com flores e música e presentes e simples declarações de apreço e cuidado, o amor tomará posse irrevogável de todo e qualquer coração devoluto. Banqueiros e bancários, construtores e operários, empresários, professores, artistas de rua, profissionais de toda sorte, adultos e crianças e velhinhos, todas as almas solitárias deste mundo! Preparem-se para ceder sem luta à chegada implacável do amor às terras férteis de seus corações.
Abram seus portões, escancarem as portas, liberem as janelas, prendam os cachorros e preparem a casa à visita permanente do amor operário, trabalhador, corajoso e simples. Ele vai chegar sem slogans ou passeatas, sem discursos, gritos de guerra ou enfrentamentos com a polícia. Vai surgir na hora mais silenciosa da noite, deitar ao seu lado e acordar com você na hora de ir ao trabalho, como se ali estivesse desde sempre.
O amor vai chegar assim, de manso, mas com o passo forte e a potência de um jato varrendo a craca dos rancores, a sujeira grossa dos maus pensamentos, a gordura acumulada das chateações diárias, da burrice, da inveja, da grosseria. Virá com a força mesma da vida, desobstruindo os canais da memória entupidos de morte. Virá alegre como o cão que reencontra o dono depois da eternidade de um dia inteiro sozinho em casa, à espera.
E então as preocupações ordinárias e mesquinhas farão as malas e deixarão os corações livres para viver em absoluto estado de ocupação plena pelas intenções e ações de um amor generoso, diário e vital.
Esse amor que acorda cedo e faz ginástica, que parece tão mais jovem do que de fato é, esse amor vai pintar as paredes da casa, mudar a posição dos móveis, vai matar a sede e a fome que restam, soltar os passarinhos de suas gaiolas ridículas, vai cuidar da horta no quintal e presentear os vizinhos com as verduras frescas. Esse amor vai florescer e perdurar e se esparramar pelas redondezas. Vai levar ao passeio diário os cachorros que vivem dentro de cada um de nós. Esse amor vai invadir em paz a nossa vida tão talhada para a guerra.
E quando as forças armadas de um coração já machucado se levantarem em defesa natural de sua estrutura, em puro e simples movimento de autopreservação, o amor estenderá sua mão pequena e linda, de unhas roídas e sem nenhum esmalte, e todas as armas cairão em silêncio. Então esse coração abrirá suas fronteiras à chegada irrefreável do encantamento amoroso e total, explosão de energia que nos leva ao encontro de quem somos, nos resgata da morte e nos devolve, sãos e salvos, à vida que é hoje, amanhã e depois um longo e eterno agora."
André J. Gomes
Sem paus e pedras e enxadas, mas com flores e música e presentes e simples declarações de apreço e cuidado, o amor tomará posse irrevogável de todo e qualquer coração devoluto. Banqueiros e bancários, construtores e operários, empresários, professores, artistas de rua, profissionais de toda sorte, adultos e crianças e velhinhos, todas as almas solitárias deste mundo! Preparem-se para ceder sem luta à chegada implacável do amor às terras férteis de seus corações.
Abram seus portões, escancarem as portas, liberem as janelas, prendam os cachorros e preparem a casa à visita permanente do amor operário, trabalhador, corajoso e simples. Ele vai chegar sem slogans ou passeatas, sem discursos, gritos de guerra ou enfrentamentos com a polícia. Vai surgir na hora mais silenciosa da noite, deitar ao seu lado e acordar com você na hora de ir ao trabalho, como se ali estivesse desde sempre.
O amor vai chegar assim, de manso, mas com o passo forte e a potência de um jato varrendo a craca dos rancores, a sujeira grossa dos maus pensamentos, a gordura acumulada das chateações diárias, da burrice, da inveja, da grosseria. Virá com a força mesma da vida, desobstruindo os canais da memória entupidos de morte. Virá alegre como o cão que reencontra o dono depois da eternidade de um dia inteiro sozinho em casa, à espera.
E então as preocupações ordinárias e mesquinhas farão as malas e deixarão os corações livres para viver em absoluto estado de ocupação plena pelas intenções e ações de um amor generoso, diário e vital.
Esse amor que acorda cedo e faz ginástica, que parece tão mais jovem do que de fato é, esse amor vai pintar as paredes da casa, mudar a posição dos móveis, vai matar a sede e a fome que restam, soltar os passarinhos de suas gaiolas ridículas, vai cuidar da horta no quintal e presentear os vizinhos com as verduras frescas. Esse amor vai florescer e perdurar e se esparramar pelas redondezas. Vai levar ao passeio diário os cachorros que vivem dentro de cada um de nós. Esse amor vai invadir em paz a nossa vida tão talhada para a guerra.
E quando as forças armadas de um coração já machucado se levantarem em defesa natural de sua estrutura, em puro e simples movimento de autopreservação, o amor estenderá sua mão pequena e linda, de unhas roídas e sem nenhum esmalte, e todas as armas cairão em silêncio. Então esse coração abrirá suas fronteiras à chegada irrefreável do encantamento amoroso e total, explosão de energia que nos leva ao encontro de quem somos, nos resgata da morte e nos devolve, sãos e salvos, à vida que é hoje, amanhã e depois um longo e eterno agora."
André J. Gomes
Mais um na multidão
Perdoamos quando não sentimos mais necessidade de usar as mágoas antigas contra alguém.
Tudo passa, tudo muda, tudo se transforma.
O que já foi tão importante de repente passa a não ser nada de mais. E tanto faz estar ali ou não.
Tudo passa, tudo muda, tudo se transforma.
O que já foi tão importante de repente passa a não ser nada de mais. E tanto faz estar ali ou não.
Wednesday, March 30, 2016
Par perfeito
Eu não estou procurando namorado. Já falei mil vezes que me dou muito bem com a minha própria companhia. Não tenho interesse de fazer meu ficante-médio-interessante subir pra posição de namorado. Namorar por conveniência é para os fracos. Pra mim, não. Eu sou guerreira. Vou atrás do que quero e o que eu quero é um homem de verdade. Quero um homem que seja mais homem do que eu. Isso mesmo: um homem que seja mais homem do que eu.
Subscribe to:
Posts (Atom)